quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Começa neste sábado a 4ª Mostra Teatro na Mochila


Camila de Magalhães

Correio Braziliense


A sala de ensaio é pequena, os recursos são poucos, mas eles não desistem e fazem o que for necessário para colocar em prática o que mais gostam de fazer na vida: o teatro. Por conta do talento e superação, a Cia. Língua de Trapo, criada em 2005 pela professora Isabel Cavalcante, é um dos sete grupos selecionados para participar da quarta edição da Mostra Teatro na Mochila, que começa neste sábado e vai até 30 de agosto no Recanto das Emas, Planaltina, Núcleo Bandeirante e Cruzeiro. Veja programação.


A mostra foi lançada pela Fundação Athos Bulcão em 2005 e os espetáculos são produzidos por estudantes da rede pública. A seleção deste ano foi feita a partir dos grupos que se apresentaram no Festival de Teatro na Escola e no Campeonato de Teatro Sub-17 , ano passado. Acompanhados por professores, os alunos dedicaram quatro meses à montagem das apresentações.


Em uma pequena sala recém-construída no Centro de Ensino Fundamental 4 de Planaltina, Isabel Cavalcante coordena um grupo de 46 alunos com altas habilidades em teatro, identificados em várias escolas da rede pública de Planaltina. A idade dos jovens varia entre 7 e 19 anos. Eles são subdivididos em quatro grupos.


Em cartaz no Teatro na Mochila,
O fantástico mistério de Feiurinha, com texto de Pedro Bandeira, foi montado por uma turma de 25 alunos, que dá vida aos personagens do espetáculo. Todas as roupas, cenários e acessórios foram criados por eles.

No enredo, as tradicionais princesas dos contos de fada (Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida, Bela, Chapéuzinho Vermelho e Rapunzel – todas grávidas) investigam o desaparecimento da princesa Feiurinha. Elas vão atrás de um escritor que não consegue descobrir o paradeiro de Feiurinha porque sua história jamais foi escrita. A única pessoa que sabe contá-la é Gerusa, a empregada do escritor, que ajuda na recuperação do conto.


A peça já foi encenada na comunidade e no Espaço Cultural 508 Sul, sempre com casa cheia. "Ver meus alunos no palco e a emoção da plateia é muito gratificante", confessa Isabel. A estudante Louella Trindade, 16 anos, está na companhia desde o início. "A primeira peça que assisti foi do grupo, quis entrar e o teatro se tornou a minha vida", desabafa. "É uma honra nosso grupo ter sido escolhido entre outros 12, é muito bom o reconhecimento".


Para Katja Malena, 15 anos, o festival serve para mostrar que Planaltina está crescendo e tem grandes artistas. A maior dificuldade da companhia é a questão financeira. "A gente não tem nenhuma ajuda da Secretaria de Educação", comenta a professora Isabel. Todos os recursos são conseguidos por meio de rifas e campanhas em Planaltina.


O sonho de muitos alunos é seguir a carreira, como Luciano Czar, 19, que cursa artes cências na UnB. "Todos são muito talentosos, mas chega um momento em que eles têm de optar por outras coisas porque o caminho das artes não é tão fácil, não dá condições para saírem sozinhos", lamenta Isabel Cavalcante.


Acesso aos bens culturais

Segundo Glauber Coradesqui, coordenador da Mostra Teatro na Mochila, a ideia do projeto é potencializar a democratização do acesso aos bens culturais nas cidades satélites. "Queremos fortalecer esses grupos que nem sempre têm apoio, dar continuidade, além de oferecer outras possibilidades para eles continuarem trabalhando e criar autonomia", observa ele, ao lembrar que o Teatro na Mochila serve de porta para profissionalização de muitos artistas, "apesar de não ter esse objetivo claro".


Cada grupo recebe uma ajuda de custo de R$ 1 mil por apresentação. O uso do benefício fica a critério de cada um, seja para infraestrutura técnica, cenário, figurino, compra de passagens de ônibus para os componentes ou até para constituir o grupo juridicamente. Os professores ganham R$ 500. Toda a verba vem do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), do Distrito Federal.


As principais dificuldades enfrentadas pelos produtores e participantes da mostra são a falta de espaços adequados e de infraestrutura técnica nas cidades. Nas edições anteriores, as peças teatrais eram apresentadas em escolas durante a semana. Desta vez, a programação é toda nos fins de semana de agosto. Coradesqui confessa que tem receio sobre a divulgação nas comunidades. "As pessoas não têm o hábito de ir ao teatro no fim de semana, mas é hora de começar a se criar o habito e ter mais uma possibilidade de lazer", defende.


Serviço

4º Festival Teatro na Mochila – De 8 a 30 de agosto, aos sábados e domingos, no Recanto das Emas, Planaltina, Cruzeiro e Núcleo Bandeirante. Apresentações às 17h e 19h. Entrada franca. Livre para todos os públicos. Confira aqui a programação em cada cidade.


Confira a matéria na íntegra no site www.correioweb.com.br/euestudante





Nenhum comentário: